Quarentena 3 – Vamos vencer essa praga
Frase do Mandetta: “Quem é de direita usa cloroquina. Quem é de esquerda, tubaína. E quem é de juízo, escuta a medicina.”
Escrito por Boécio Vidal Lannes, 25 de Maio às 18h41
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A gente inventa de tudo para passar o tempo durante o isolamento social. Esta semana eu me superei. Memórias da infância. Meu pai colocava sementes de abóbora para secar ao sol. Repeti a experiência. Sequei as sementes por três dias e levei mais cinco dias saboreando uma a uma. Não tem gosto de nada. Mas ajuda a passar o tempo.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, anunciou segunda-feira (25 de maio) a suspensão das pesquisas com a cloroquina e a hidroxicloroquina. Defensor do remédio, Jair Bolsonaro deve ter jogado uma praga no Tedros. A decisão veio depois que a revista científica The Lancet alertou para os riscos do uso da medicação no tratamento da Covid-19.
Minha sobrinha Rossana, 40 anos, me ligou para contar uma novidade. “Tio, a Anitta está estudando política”. Pelo Instagram, a cantora tem sido orientada pela advogada Gabriela Prioli. Nisso, Jair Bolsonaro tem culpa: milhões de pessoas passaram a discutir política. Há um receio generalizado de que o presidente jogue o Brasil numa ditadura.
A exemplo de Anitta, meu amigo Wagner, morador de Guarulhos/SP, também está procurando se informar. Engenheiro mecânico da American Airlines, 42 anos, desde pequeno ele se esquivara do tema. Mas agora não dá mais. De São Paulo, meu amigo Lucena confirma que jovens e adultos estão se arriscando na política. Demorou, mas os tais “isentões” perceberam que o assunto permeia tudo em nossas vidas – economia, saúde, educação, agricultura, cultura, turismo, segurança pública, mobilidade, preservação das florestas.
Eu queria focar somente nas histórias do dia a dia, mas as notícias vindas de Brasília meteram o pé na porta de todos os brasileiros. O vídeo da reunião do presidente Jair Bolsonaro com os ministros, liberado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ganhou as manchetes.
Não resta dúvida de que o chefe do Planalto só pensa em confronto. Em plena pandemia da Covid-19, ele dá uma banana para a saúde da população. “Reunião de puxa-sacos”, escreveu o jornalista Luís Nassif. “Falta tato político e sobra ignorância e boçalidade”, emendou o poeta e jornalista Álvaro Miranda, no portal GGN. Humberto Mesquita, do site Jornalistas Livres, está indignado: “Era uma reunião para discutir o Brasil. Foi uma reunião para destruir o Brasil”.
Belicista, Jair Bolsonaro não se fez de rogado. O governo editou uma portaria que aumentou a quantidade de munição para os “cidadãos de bem”. Em vez de 200 cartuchos, o brasileiro agora pode comprar 550 munições por mês. Segundo o presidente, é um “recado” contra governadores e prefeitos que defendem o isolamento social.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vai tentar barrar a portaria. “Além do desvio de finalidade, isso revela uma intenção criminosa do presidente”, falou o senador.
Até o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), bolsonarista arrependido, está fulo com as notícias de Brasília. Disse ao UOL que irá processar o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), após ele afirmar que a apreensão dos celulares do presidente e de seu filho Carlos traria “consequências imprevisíveis” à ordem institucional. Heleno não gostou de saber que o ministro Celso de Mello encaminhou à PGR pleito feito por parlamentares da oposição para que os celulares fossem periciados.
O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia é outro político que não gostou do tom usado por Augusto Heleno. Ele comentou que a nota do chefe do GSI só serve para afastar os investidores estrangeiros. “Se achou que o encaminhamento do Celso de Mello é tão grave assim, que peça uma audiência com o ministro”, reclamou Maia em entrevista à Record News.
Pausa necessária – Minha sogra Dona Aidiu continua aprontando. Sua filha Valéria trouxe a notícia de que ela interceptou um miliciano na rua e disse que queria mudar de casa. De novo. Vale lembrar que ela fez três mudanças nos últimos dois anos. Com 89 anos.
Felipe Neto soltou o verbo contra a família Bolsonaro no Roda Vida da TV Cultura. No ano passado o youtuber foi ameaçado de morte por bolsominions. “Influenciador que não se manifestar agora são cúmplices do fascismo”, vociferou, em referência a quem prefere ficar isento em relação aos desmandos do presidente.
Registros de quarentena
Praga de Atenas
Berço da democracia e da filosofia, Atenas perdeu 35% de sua população para a febre tifoide. Conhecido por Praga de Atenas, o surto varreu a capital da Grécia no verão de 430 a.C. A pandemia iniciou-se durante a Guerra do Peloponeso, contra Esparta. Historiadores relatam que as duas cidades irmãs travaram uma briga estúpida em meio a uma pandemia. E os sofisticados atenienses perderam a supremacia para os guerreiros de Esparta.
Quarentena Vamos superar (2)
O Brasil perdeu o segundo ministro da saúde em plena pandemia; Ricardo Teich nem esquentou
Quarentena: como suportar (1)
O Jornalista Boécio Vidal Lannes, de 63 anos, conta como tem sido a sua quarentena.
Para lá de Marrakesh
Radicado em Santa Cruz, o fotógrafo Sandro Vox já expôs em Marrakesh e em Paris
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